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Sem teísmo

Sou atéia.
Acho que nasci atéia e só depois me dei conta disso.
Nas escolinhas de estudo bíblico eu sempre questionava as professorinhas, até que era repreendida por ser pecado questionar as leis divinas. Logo eu me cansava de frequentar lugares que limitavam seu direito de expressar-se com ameaças de que algo tenebroso poderia me acontecer se eu continuasse com as minhas perguntas. Por conta dessa educação, a imagem formada de Deus em minha cabeça era de um senhor de barba branca, olhar sábio, sentado em um trono de nuvens e um cinto sempre em uma das mãos (a esquerda, naturalmente), pronto para castigar seja quem for e seja lá o motivo.
Qualquer má atitude que eu tivesse era seguida com a repreensão: "Deus castiga!". E logo tudo se tornava um campo ameaçador, onde eu era um bonequinho rebelde em uma maquete gigante, tinha medo de ser esmagada. Minha mente de criança criava coisas mirabolantes como um cometa me acertar em cheio ou ser vítima de uma bala perdida.
Antes de dormir, minha avó me instruía a rezar. Obviamente eu tentava entender o motivo da obrigação de fazer as orações e ela respondia: "Deus nos ama, e devemos sempre agradecer pelas coisas boas que Ele nos dá, pois nem uma folha cai sem o consentimento do Todo Poderoso".
Assistindo ao jornal, via pessoas inocentes sendo mortas de maneiras brutais e outras coisas horríveis demais para uma criança. Eu perguntava: "Se Deus está cuidando de todas as pessoas, então porque ele não parou as balas que atingiram essa criança?". Ao que me respondiam: "Os caminhos de Deus são misteriosos, minha querida". E eu sentia medo.
Pensei nas dúvidas que ninguém conseguia me tirar e das injustiças nos julgamentos das próprias pessoas que seguem o cristianismo e percebi que aquilo não me completava.
Resolvi assumir para mim mesma, foi difícil. A dúvida me mastigou por dias a fio. Quando eu resolvi que aquelas verdades incontestáveis não me tocavam, não me convenciam, passei a me sentir assustada.
A cada nota baixa ou qualquer coisa ruim que me acontecia, tinha medo de ser a ira de Deus se voltando contra mim por estar questionando sua existência, como um pai bravo.
Assumir meu ateísmo para a sociedade foi, e ainda é, uma tarefa muito difícil. Mas foi mais difícil ainda para mim mesma. No início, eu sentia o medo da dúvida e todas as suas consequências. Assumir um estilo de vida que vai contra a sociedade é sempre árduo, mas é preciso ou você nunca se sentirá liberto.
Nem todos que me conhecem sabem que eu não acredito em absolutamente nada, sou uma pessoa sem crenças. Não preciso disso e sou feliz e livre assim. Mas por saber que muitos não entendem, prefiro ficar quieta. E também, sou uma ateia medrosa. Tenho medo de perder meus amigos, medo de apanhar na rua, medo de morrer nas mãos de algum religioso radical.
Eu conheci muitas pessoas que viviam dentro da igreja e eram pessoas maravilhosas, assim como ateus maravilhosos. Assim como conheci muita gente detestável que ia rezar toda semana e vivia com a bíblia na bolsa dizendo "Amém" quando o padre/pastor falava: "Precisamos amar ao próximo como se fosse o nosso irmão.", mas que não perdia a oportunidade de passar por cima de qualquer um e gente que não frequentava a igreja e se comportava da mesma forma.
Logo, eu não acho que acreditar em Deus faça de você bom ou ruim. Nem acho que acreditar em Deus seja uma coisa ruim, muito pelo contrário, pois sei que muita gente mudou de vida por conta da religião e justamente por isso eu não desejo que ela acabe ou perca força.
Não saio por ai pregando meu ateísmo porque eu sei que não é uma forma confortável de viver e não é pra todos. Encarar o medo acreditando que se está sozinho é um peso para poucos e por saber que aguento, vivo muito bem assim.
E sabe, eu gosto de quem vive para pregar sua fé. Pode parecer ironia, mas eu sinto uma empatia enorme por quem vive em prol da causa na qual acredita, respeito muito.
Já outras pessoas, que vivem da demagogia, eu posso apenas ignorar e esperar que não se metam naquilo que não conhecem.
Eu fui radical por um tempo, sedenta por verdade. Concluí que todo radical é idiota. Qualquer pessoa que tente impor seu ponto de vista é um imbecil. Resolvi parar com isso, cresci.
Acabei desacreditando de tudo. Até da teoria do Big Bang. Eu não quero uma explicação de como o universo surgiu, pois seja lá o que aconteceu o resultado sou eu, nada mudará isso.
Escrevi esse texto apenas para esclarecer o meu ponto de vista. Não tenho a intenção de ferir ninguém. Só quero que saiba que seja você um cristão, budista, hindu, xintoísta ou seguidor de qualquer outra religião, acredite nela. Acredite porque você ama aquela verdade que escolheu para si. Acredite porque você é livre para escolher.
Ou faça como eu, desacredite, mas certifique-se de que essa escolha te faz pleno.
Seja feliz com a sua verdade e que se dane o que dizem as pessoas.

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